segunda-feira, 20 de abril de 2015

Festa














Nesse momento em que o relógio aponta meia-noite, o sol descansa...
Prepara em seus sonhos as sinfonias mais encantadoras existentes dentro das estrelas,
Rega as cavidades de medo e insegurança com poesia,
Apalpa com seus raios os lindos cabelos das flores,
Desenha sobre as nuvens o sorriso que aprendeu com o arco-íris,
Dança todo feliz,
Como quem se prepara para uma grande festa.

Ele sabe que,
Ao trazer o amanhecer,
Deve também pedir para que a natureza toque suas trombetas,
Avisando a todos que um dia especial chegou.

Exatamente um ano atrás,
Esse fenômeno aconteceu e foi a maior alegria:
Elefantes começaram empinar pipas,
Os camaleões viraram vagalumes,
E os peixes, dançarinos de valsa.

As araras ganharam filhos das tartarugas,
Os leões não levantaram o bumbum do chão,
E as cabritas rezaram como um louva-deus.

Toda essa maluca alegria se instaurou,
E tudo por causa do aniversário da dona borboleta.

A senhorita noite também quis participar. Trouxe logo seu maior presente:
A lua!

E vieram morcegos-cachorros,
Gatos-abelhas,
E baratas.
Só que essas não puderam participar da festa.

Quando a borboleta pôs-se a dormir,
Um passarinho tocador de violas preparou sua caminha,
Trouxe-lhe um café feito com muito mimo,
E ali fizeram seu ninho de amor. 

Dentro de si,
O querido sol já sabe que dessa vez, a festança será ainda maior.
Mais bonita,
Colorida,
Afinal,
Embora tudo isso já tenha acontecido antes mesmo dela saber,
O agora se revela clarividente;
Puro, carinhoso,
Gentil,
Sensível e real.

E claro,
Quem mais ganha com toda essa celebração
Não é a borboleta e sim o danado do passarinho,
Que vida após vida,
É predestinado a carregar em seus braços-asas,
A beleza dessa linda deusa das cores.

Se é um aniversário,
Não deveria ele dar presentes a ela, ao invés de ganhar?


                                                                                                            Christian Felix

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Reticências














Um ponto.
Eu sempre fui um ponto.
Um ponto diferente dos outros pontos.

Eu caminhava
Mas sempre parava aqui e acolá.
Às vezes na curva,
Às vezes em linha reta,
Mas sempre sendo o mesmo ponto.

Um belo dia
Dona cigarra chegou bem perto e cantou: 
"Para ver as coisas pelo avesso e nunca deixar de caminhar, é preciso encontrar um ponto solar."
Eu ri.

Guardei suas palavras em meu coração
E a frase que mais ecoava em mim era assim:
“Esse ponto precisa ter dom de ler alma."

Um tempo depois,
Estava eu, na reta de uma curva
Ou na curva de uma reta
Não me lembro muito bem
Avistei o ponto do canto da cigarra
E esse ponto se grudou em mim.

Desse dia em diante
Nunca mais fui um ponto
Muito menos dois
Éramos três:
Dois pontos e o que nascia dessa junção.

Quem nos via de longe, enxergava assim:
...


Acho que a cigarra tinha razão.

                                                                           Christian Felix

terça-feira, 14 de abril de 2015

Em algum lugar











Corpo suspenso em algum lugar
Sinfonias dissonantes
Pupilas do peito dilatadas

Intervenções emotivas
Lágrimas enclausuradas
Sentidos embaraçados

Coração pulsante
Suspiros acanhados
Solitária voz

O mundo interno parece estar complicando a real interpretação do externo,
Ou talvez esteja acontecendo o contrário

Os sonhos decidiram que ainda é cedo,
Mas também tempo demais para deixar de sonhar

Rego minha flor
Lanço-a ao vento
Emano um sorriso ao céu
E durmo doído e louco
Em algum lugar que eu esteja

                                          Christian Felix