domingo, 8 de maio de 2016

Caminho de flores

















Vida.
Criar a vida.
O mistério mais angustiante e sublime de todos.
O néctar do amor.
O equilíbrio que faz levitar.
A ausência de tudo e do nada.
O início e o fim.
O não e o sim.
O lugar onde só Deus pode habitar.
Ser Mãe, é a permissão de, no ato de gerar a vida, ser ele próprio.

É estar no cerne, no néctar, no impalpável.
É sentir a energia que move e rege o universo.
É ser sol, e querer aquecer o mundo,
É ser lua, e querer, iluminar a escuridão.
É ser estrela, e brilhar mesmo após sua morte.

Se as mães são anjos celestiais,
Seria o próprio Deus, abelhinhas, golfinhos, cãezinhos,
Borboletas, 
Quanto mais o céu, as árvores, e o mar?

Seriam então, as mães, 
Irmãs da natureza?
Ou uma extensão e continuação do mesmo ninho?

O dom é inato.
O véu da ancestralidade se rompe e se faz novo.
Será que existe como explicar, o ato de dar a luz a uma cria semelhante a ti?
Onde as mamães habitam, naquele exato momento?
No estágio Deus de ser, gerando a vida,
Onde elas estão?
O que sentem?
Qual a sensação de apalpar o infinito?

Algumas mães vivenciam esse estágio divino,
E por questões da natureza,
Da loucura do próprio humano,
Ou até mesmo por conta do destino,
Deixam escorrer pelas mãos,
Os fios do amor incondicional.

Outras, porém,
Agarram com tanta força
Que conseguem eternamente manifestar
A complexidade espiritual e sagrada do amor
E cuidam de seus filhos
Com tudo que há de mais belo dentro de si.

Imagino que,
Nem elas mesmas consigam explicar
Pois nem o formoso corpo que carregam suas almas,
Suportam tamanha infinitude.

Porém, devem ser eternamente gratas,
Pela sensação incomensurável de ser
Um canal aberto,
Uma ponte,
Entre a nudez humana e a divina
Um caminho de flores
Do próprio amor
Para o celeste-infinito-amor.


                                                                              Christian Felix

terça-feira, 21 de julho de 2015

Menino













No território sagrado da infância
Que fica aqui, dentro de mim
Eu vejo um menino me olhando de canto de zóio

Pois digo-lhe:
Fica tranquilo.
Estou tratando de brincar muito e vou brincar ainda mais!

Posso ao menos agradecer por manifestar sempre teu riso e teus sonhos sobre mim?

Christian Felix

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Febril














Senhorita vida,
Eis minha súplica:

...!!!

Eu imploro que penetre em meus poros
Traga-me força
Desentupa o canal das minhas lágrimas
E mesmo nessa tempestade onde minhas asas pesam,
Que eu possa alçar voo

Não me deixe aqui
Nesse lugar onde os lobos fogem de medo
Onde meu coração bate fraquinho
E me faz sentir dor

Carrega-me no colo...
Prometo relaxar em teus braços
Esperar o momento da colheita
E dessa vez,
Apenas receber.

Ah de ser agora não é?
Não irá me deixar desfalecer, não é mesmo?
Ainda há muito para eu brincar de colorir, certo?


Christian Felix






domingo, 10 de maio de 2015

Anjo celestial














Quando a existência canaliza suas cores num só ponto estelar,
Brota do cerne da vida a essência do amor,
Um botão de rosas, cuja asa é solar,
E um dom divinamente puro de gerar em si, fulgor.

És beleza nua,
Tão exata e crua,
Como a deusa lua.

Ventre doce, divinal,
Tão sagrado, maternal,
Claramente angelical.

Sua cria é musical
Sua alma sem idade
O teu sonho, visceral
Luz e generosidade.

És início,
A sabedoria e o fim,
E o clarão do meio.

A razão da vida continuar florescendo,
Nascendo e morrendo,
Transcendendo,
No aqui e agora,
Como a fauna e a flora,
Que sublima e se inclina,
Para a eterna sonoridade,
Da santa felicidade.

Christian Felix

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Festa














Nesse momento em que o relógio aponta meia-noite, o sol descansa...
Prepara em seus sonhos as sinfonias mais encantadoras existentes dentro das estrelas,
Rega as cavidades de medo e insegurança com poesia,
Apalpa com seus raios os lindos cabelos das flores,
Desenha sobre as nuvens o sorriso que aprendeu com o arco-íris,
Dança todo feliz,
Como quem se prepara para uma grande festa.

Ele sabe que,
Ao trazer o amanhecer,
Deve também pedir para que a natureza toque suas trombetas,
Avisando a todos que um dia especial chegou.

Exatamente um ano atrás,
Esse fenômeno aconteceu e foi a maior alegria:
Elefantes começaram empinar pipas,
Os camaleões viraram vagalumes,
E os peixes, dançarinos de valsa.

As araras ganharam filhos das tartarugas,
Os leões não levantaram o bumbum do chão,
E as cabritas rezaram como um louva-deus.

Toda essa maluca alegria se instaurou,
E tudo por causa do aniversário da dona borboleta.

A senhorita noite também quis participar. Trouxe logo seu maior presente:
A lua!

E vieram morcegos-cachorros,
Gatos-abelhas,
E baratas.
Só que essas não puderam participar da festa.

Quando a borboleta pôs-se a dormir,
Um passarinho tocador de violas preparou sua caminha,
Trouxe-lhe um café feito com muito mimo,
E ali fizeram seu ninho de amor. 

Dentro de si,
O querido sol já sabe que dessa vez, a festança será ainda maior.
Mais bonita,
Colorida,
Afinal,
Embora tudo isso já tenha acontecido antes mesmo dela saber,
O agora se revela clarividente;
Puro, carinhoso,
Gentil,
Sensível e real.

E claro,
Quem mais ganha com toda essa celebração
Não é a borboleta e sim o danado do passarinho,
Que vida após vida,
É predestinado a carregar em seus braços-asas,
A beleza dessa linda deusa das cores.

Se é um aniversário,
Não deveria ele dar presentes a ela, ao invés de ganhar?


                                                                                                            Christian Felix

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Reticências














Um ponto.
Eu sempre fui um ponto.
Um ponto diferente dos outros pontos.

Eu caminhava
Mas sempre parava aqui e acolá.
Às vezes na curva,
Às vezes em linha reta,
Mas sempre sendo o mesmo ponto.

Um belo dia
Dona cigarra chegou bem perto e cantou: 
"Para ver as coisas pelo avesso e nunca deixar de caminhar, é preciso encontrar um ponto solar."
Eu ri.

Guardei suas palavras em meu coração
E a frase que mais ecoava em mim era assim:
“Esse ponto precisa ter dom de ler alma."

Um tempo depois,
Estava eu, na reta de uma curva
Ou na curva de uma reta
Não me lembro muito bem
Avistei o ponto do canto da cigarra
E esse ponto se grudou em mim.

Desse dia em diante
Nunca mais fui um ponto
Muito menos dois
Éramos três:
Dois pontos e o que nascia dessa junção.

Quem nos via de longe, enxergava assim:
...


Acho que a cigarra tinha razão.

                                                                           Christian Felix

terça-feira, 14 de abril de 2015

Em algum lugar











Corpo suspenso em algum lugar
Sinfonias dissonantes
Pupilas do peito dilatadas

Intervenções emotivas
Lágrimas enclausuradas
Sentidos embaraçados

Coração pulsante
Suspiros acanhados
Solitária voz

O mundo interno parece estar complicando a real interpretação do externo,
Ou talvez esteja acontecendo o contrário

Os sonhos decidiram que ainda é cedo,
Mas também tempo demais para deixar de sonhar

Rego minha flor
Lanço-a ao vento
Emano um sorriso ao céu
E durmo doído e louco
Em algum lugar que eu esteja

                                          Christian Felix